Que cansaço de pensar o tempo todo!
Enfim, brevemente.
Num belo dia, perguntei algo a uma criança absurdamente chata, que não parava quieta nem por milagre.
Tinha um pato de pelúcia roxo, uma chupeta ensopada de baba brilhante, e corria eufórica pelo saguão do banco do brasil.
Cabelo lisinho, louro, e certa semelhança comigo. Não fosse a falta de paz. Se bem que aos cinco anos, eu nem sabia o que ela era. Na época eu achava que eram 'MEROS! acessórios do parquinho'.
Enfim, eu estava uma pilha nevrálgica, munida de impaciência, trovejando fúria à burocracia, e este taz mania ali decidiu fazer corrida com obstáculos. Estabeleceu por si, que as cadeiras iriam queimar as pernas caso as relasse, que as linhas do chão separam mar de terra... E notei uma inteligência magnífica ali, completamente perdida na imaginação.
Pensei numa rasteira disfarçada, em chamar para brincar comigo, em dar uma bala de morango para o moleque, qualquer coisa... Mas me abaixei de repente à altura de seus olhos, e perguntei uma arbitrariedade, investindo em pausar aquele êxtase simples, encantador, que desbravava a fila do caixa como escoteiro: (senti uma esperança no futuro... Mas voltei ao meu mal humor e segui)
- Menininho, du-vi-do que você sabe o que é estatística!
O garoto arrancou da boca aquele bico de borracha velha vindo untada por uma poça de cuspe transparente, tossiu duas vezes no meu rosto, e congestionado de resfriado de creche, falou:
- Eu sei, tia!!! Estatística é quando alguém quer saber alguma coisa sozinha, no meio de todas as coisas que todas as pessoas fazem o tempo todo, desde sempre e pra sempre, tá? – mostrou-me a língua e sugou de volta aquela onda infante, como se fosse uma ventosa ou imã, grudando o silêncio ali dentro da chupeta, e me deixando curiosa para sempre.
Será que toda criança pensa assim enquanto sempre escolhe chupar chupeta ao invés de falar?
Ah, e eu, recolhi meu queixo do piso que ficou ali, todo espalhado, paguei meu boleto e fui embora com vergonha de ter quase trinta anos.
Em alguns anos, essa criança provavelmente vai ser capaz de fazer algo assim:
(tela de Luiz Almeida, participante ferrenho dos tópicos na DLE/ texto de Olívia Waste)
-
Enfim, brevemente.
Num belo dia, perguntei algo a uma criança absurdamente chata, que não parava quieta nem por milagre.
Tinha um pato de pelúcia roxo, uma chupeta ensopada de baba brilhante, e corria eufórica pelo saguão do banco do brasil.
Cabelo lisinho, louro, e certa semelhança comigo. Não fosse a falta de paz. Se bem que aos cinco anos, eu nem sabia o que ela era. Na época eu achava que eram 'MEROS! acessórios do parquinho'.
Enfim, eu estava uma pilha nevrálgica, munida de impaciência, trovejando fúria à burocracia, e este taz mania ali decidiu fazer corrida com obstáculos. Estabeleceu por si, que as cadeiras iriam queimar as pernas caso as relasse, que as linhas do chão separam mar de terra... E notei uma inteligência magnífica ali, completamente perdida na imaginação.
Pensei numa rasteira disfarçada, em chamar para brincar comigo, em dar uma bala de morango para o moleque, qualquer coisa... Mas me abaixei de repente à altura de seus olhos, e perguntei uma arbitrariedade, investindo em pausar aquele êxtase simples, encantador, que desbravava a fila do caixa como escoteiro: (senti uma esperança no futuro... Mas voltei ao meu mal humor e segui)
- Menininho, du-vi-do que você sabe o que é estatística!
O garoto arrancou da boca aquele bico de borracha velha vindo untada por uma poça de cuspe transparente, tossiu duas vezes no meu rosto, e congestionado de resfriado de creche, falou:
- Eu sei, tia!!! Estatística é quando alguém quer saber alguma coisa sozinha, no meio de todas as coisas que todas as pessoas fazem o tempo todo, desde sempre e pra sempre, tá? – mostrou-me a língua e sugou de volta aquela onda infante, como se fosse uma ventosa ou imã, grudando o silêncio ali dentro da chupeta, e me deixando curiosa para sempre.
Será que toda criança pensa assim enquanto sempre escolhe chupar chupeta ao invés de falar?
Ah, e eu, recolhi meu queixo do piso que ficou ali, todo espalhado, paguei meu boleto e fui embora com vergonha de ter quase trinta anos.
Em alguns anos, essa criança provavelmente vai ser capaz de fazer algo assim:
(tela de Luiz Almeida, participante ferrenho dos tópicos na DLE/ texto de Olívia Waste)
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Curti muito a homenagem Olívia!!! :D
ResponderExcluirMe sinto assim, tendo epifanias, muitas vezes. :D
Parabéns pelo texto. ^^