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Lulie, sobre a nudez de Lucy

Retirado integralmente e com a devida permissão da Lulie Rosa! :D A primeira a permitir uma publicação de um desenho dela nua no tópico "Nu na Comu", no falecido e saudoso Orkut.

A arte sobre a qual Lulie se refere ao longo do texto. Autor, estamos te procurando, pronuncie-se.


Há uns bons anos (nem sei quantos) eu participava de uma comunidade muito incrível no orkut "desenho logo existo", numa brincadeira clássica dessa comunidade, chamada "nu na comu" em que participantes desenhavam outros participantes nus a partir de fotos em que apareciam geralmente vestidos, ganhei esse desenho, na época eu tinha uns 23 anos e vivia uma realidade bem diferente, quase oposta a de agora, e quando recebi esse desenho tive muito estranhamento. Na verdade, confesso que fiquei até um pouco chocada mesmo. Até evitei olhar muito pra ele, não dei muita atenção e deixei guardado nos arquivos... devo ter falado um "hahaha brigada", mas olhar com profundidade só estou agora, pelo menos 7 anos depois...rsrs E cara, to achando genial. Naquela época eu vivia uma vida totalmente ou quase "normal". E consequentemente lidava com meu corpo também de uma forma bem "normal", sem nenhuma relação de intimidade ou escuta, não sentia muita coisa, as vezes tinha picos de felicidade e bem estar, noutras tinha crises de tristeza, e baixa autoestima. Classificava esses momentos como bons e ruins respectivamente... As vezes sentia dor e dor passava com remédio. Óbvio. Era muito mais pra fora também! Nutria muitas relações de amizade. Estava sempre fazendo algo com alguém. Nunca ia a lugar algum sozinha, evitava passar longas horas comigo mesma. Se tinha tempo livre, buscava preenche-lo com algum programa ou conversando com alguém. Sempre fui de falar bastante e me divertia também. Quando recebi esse desenho veio uma sensação meio esquisita, sangue, corte, víceras... coisas um tanto bizarras e assustadoras pra menina que eu era. Guardei. Hoje olhando, vejo tanta coisa... Esse desenho ressoa tanto com meu ser de agora. em princípio me vem a relação com o sangue, que hoje é suave, intensa até, mas um dia já achei meu sangue meio nojento. Já tive vergonha de menstruar, lembro que ficava vermelha quando ia ao mercado comprar absorvente. E não falava sobre isso com ninguém... Um dia, diferente de agora, já tive dificuldade com a nudez, ao mesmo tempo que me instigava, a ideia de ser vista nua me causava constrangimento também. Assim como a ideia de ser observada me tirava e as vezes ainda me tira a espontaneidade. As vezes ainda me percebo constrangida quando estou fazendo algo muito meu na presença de outras pessoas, as vezes ainda me invade aquele sentimento profundo de que posso não estar fazendo do jeito certo, e essa sensação de inadequação muitas vezes me privava de me expressar com total honestidade e presença. Hoje, quando vem reconheço com carinho, as vezes ultrapasso, noutras recuo, e me perdoo, está tudo bem... Mas o que mais me chama atenção no desenho e no que mais reconheço meu momento de vida é no modo viceral de lidar com meu corpo. Hoje, reconheço meus sentimentos, percebo nitidamente meus ciclos, e me permito vivenciá-los sem nenhum julgamento de bom ou ruim, pois percebo que todos são fundamentais para meu processo de amadurecimento, até mesmo as dores, minha relação hoje é outra. Sempre que vem um sintoma ou um incomodo, percebo e agradeço a oportunidade de lidar com mais um aspecto limitante do meu ser, que sem isso talvez não conseguisse reconhecer. E assim como no desenho, muitas vezes sou eu quem me abro, me rasgo, me despedaço, afim de revelar preciosidades, as vezes escondidas atrás de padrões e crenças que ainda estão instalados e implantados nesse ser que continua vivendo, se desmanchando e se reconstruindo a cada ciclo. Hoje reconheço minhas sombras, assim como meus talentos, minhas preciosidades, hoje reconheço minhas dores, não as silencio mais... ao contrário, procuro sempre dar voz à elas, pergunto ao corpo o que esse sentir vem me mostrar. Sinto as dores, aprendo com elas, mas não me apego mais, permito que sigam e se desfaçam também... Hoje eu diria que estou num momento dentro. As vezes sinto vontade de ter mais gente por perto, de amistosidade, de me divertir e rir mais... As vezes me sinto isolada, me sinto isolar também. As vezes tenho vontade de compartilhar momentos, de me nutrir e nutrir os encontros, mas sinto preguiça também! E quando paro de me julgar me cobrando ter o que não tenho, sentir o que não sinto, posso acolher o meu momento e ir além... Estar comigo, hoje, é um grande prazer, as vezes suficiente, e TUDO BEM. Ps- Alguém da comu na época sabe me dizer quem fez o desenho?

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